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AO90: vogais fechadas para balanço

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susceptível

Há três anos, um aluno, ao ler um texto do manual, pronunciou a – por assim dizer – palavra “atores” fechando o A inicial.

Este ano, durante uma aula de oitavo ano, uma excelente aluna está a ler um texto em voz alta. No manual, é assaltada por um “suscetível”. A aluna (excelente, repita-se) lê o E da segunda sílaba do mesmo modo que leria os de “apetite”. Numa idade em que não se consegue evitar reacções a erros alheios, a turma, com excepção de uma aluna, manteve-se impávida: para a maioria, não houve erro de leitura. Ninguém me contou estas histórias, acrescente-se.

No Priberam, temos a indicação de que aquele E deve ser pronunciado aberto.

É certo que é apenas mais um caso, mas não se pode dizer que seja isolado ou pouco frequente. Há, então, vogais que, até à imposição do chamado acordo ortográfico (AO90), eram pronunciadas abertas, para, agora, se começarem a fechar. Como alguns já previam, esse facto deve-se, em muitos casos, à supressão de consoantes mudas que, entre outras funções, serviam para manter a abertura da vogal precedente.

Alguns defensores do AO90, no entanto, continuam a recusar que a grafia possa ter influência sobre a pronúncia, o que, desde logo, contraria a própria Nota Explicativa, que, no ponto 5.3., alínea B, faz referência a uma “Eventual influência da língua escrita sobre a língua oral”.

Como se  isso não bastasse, os mesmos defensores ainda foram contrariados por Antônio Houaiss e, mais recentemente, por Lúcia Vaz Pedro, apresentada como formadora do acordo ortográfico. Ambos os autores, num delírio crescente, conseguem a quadratura do círculo, quando reconhecem que as consoantes mudas têm uma função, defendendo, ao mesmo tempo, que devem ser eliminadas. Lúcia Vaz Pedro faz, até, referência a um preço que é preciso pagar.

O pagamento, entretanto, faz-se em vogais fechadas que não o eram, resultado de uma má moeda que tarda em ser expulsa. Para além disso, mais um pormenor delicioso: com o AO90, “suscetível” passa a escrever-se da mesma maneira no Brasil e em Portugal; por outro lado,  a pronúncia da vogal pretónica, ao contrário do que acontecia antes do AO90, passará a ser diferente em ambos os países, o que levará a que brasileiros e portugueses não se entendam. Como diria Lúcia Vaz Pedro, é um preço que é preciso pagar, parece que em nome de uma unificação linguística.


Filed under: acordo ortográfico, destaque Tagged: antônio houaiss, ao90, consoantes mudas, fechamento de vogais, grafia, Lúcia Vaz Pedro, pronúncia, vogais abertas, vogais fechadas

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